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1 de dezembro de 2013

Apaga a luz

O último a sair
Carrega a cruz

Carrega a escuridão pesada
Em volta dos olhos
Arrasta um corpo cansado
À procura de luz

O último a sair
Apaga a paz

Só não apaga a tortura
De se ver no espelho
E encontrar o mesmo rosto
De dias atrás

O último a luzir
Apaga a saída

Fica preso na memória
Da velha constelação
E suplica à solidão
Que lhe devolva a vida

A saída da luz
Apaga o último

É que ninguém pode viver só.








9 de outubro de 2013

Da saudade


Acorda cedinho
E bebe a água do sonho
Não se veste
Depois do banho
De qualquer coisa
Que  não seja
Esperança

Pisa no tempo
Com os pés suados
Desse corre-corre
E apressa nossa hora
Mastiga o relógio
Almoça 
A manhã 

Deságua na tarde
E se mistura 
Confia nessa chuva
Que denuncia 
A verdade do que digo
Que dá início
Ao primeiro 
finalmente 

E pinta o sete
Durante o sono
Para multiplicá-lo
Por esses planos
Que no último acordar
É sexta-feira
E já te busco
Pr'amar 

24 de setembro de 2013

Alegria Alegria

Alegria adentra a porta da frente Caminha vestida de conjunto verde Ver-te é um grande prazer Uma forma de dizer Que transbordo de alegria por te conhecer Por ver em teus pares a cor da tu’alma E sem precisar da fala, lhe entender Alegria, irmã não pela via Irmã sem laço É de abraço É na fumaça dos espaços É ali que te acho É onde me encaixo Onde a vida nos acha Da mesma caixa Eu Tu E mais três Alegria, estás no meu caminho Mesmo que não creias em destino Apenas no ser do ser Alegria, menina de cabelo vermelho Contigo é samba o dia inteiro Que é melhor rir que chorar Alegria contagia Outrora Irrita É doce de amargar Alegria que tem sotaque engraçado Ainda bem que vieste pro lado daqui De Ka E se o mundo girar e você sumir Um dia eu vou rir Ao ouvir a palavra alegria. No soar da batucada Que acorda ao som da praça Vai de oito no acaso Que deitado é infinito Mas o que acho bonito É lembrar que alegria É ela, menina de frouxo sorrir Aí já não tem como fugir Se cruzar com a Lê no caminho ria
Pois de nome e de vida És Alegria

Kau Pinheiro 

Poema escrito por Kau Pinheiro.




4 de setembro de 2013

Ao que se altera

Vou deslizar por cada fio
Desses caracóis
Calafrios
Cá pra nós
Consenti 
Com ou sem ti 
Conselho amigo
Melhor contigo
Consigo
Confio 
Enfim
Vou beijar esses olhos caídos
Essa pele pálida
Cálida 
Amarga
A marca
Amar ou ao mar
Ou sem nada
Vou te tocar, seja na tez
Ou na alma. 

21 de julho de 2013

Poeminha Indignado


Sempre tentam me provar o contrário
sem saber o que de fato
eu guardo em meu armário
de lembrança
desde que era criança

Uma bola de papel que virou mundo
um radinho vagabundo
que ficou mudo.
ainda hoje me pergunto:
Até ele se calou?

Vem e tenta mudar a vida
já me viu a aborrecida
com as coisas que me cercam:
cerca elétrica, certidão.

Nunca querem que eu diga “não”
O contrário do que diz o pensamento
O oposto do que pensa o coração,
a razão, e o lamento

-Devo me calar?

29 de maio de 2013

Presente de Poeta

Desses cabelos rubros
Jorram dizeres bem feitos
Metrificados
Na forma da linguagem
Letícia é rima rica
Na imensidão verde
Das pupilas
Afogam-se metáforas
Clamando por clareza
Letícia é mistério vívido
Na pele de marfim
o tempo tatua
Poemas ardentes
Letícia é verso manso 
-CB


Poema escrito por Caroline Brito, em 2013.

12 de abril de 2013

Sol-idão

Hoje teve sol lá fora
Mas foi só lá fora
Aqui dentro não
Foi sol lá fora
Aqui dentro
Solidão

4 de fevereiro de 2013

Por um fio

Era uma porta como milhares de outras portas que existem por aí. Era uma porta ali na frente, prestes a ser aberta, usada, fechada.  Era o que se espera de uma porta.
Olhei de cima a baixo, de um lado ao outro, da maçaneta à dobradiça. Reparei detalhes talhados na madeira que por algum motivo me lembraram fatos da minha vida.  Eram várias linhas desenhadas. As linhas  mudavam seus cursos, eram retas e curvas. Eram compridas e curtas. Estreitas e largas. Confusas. Distantes. Mas em algum momento caminhavam para a mesma direção, mais na frente se uniam, e no final terminavam em apenas um fio...
E comecei a pensar em tudo, encaixar cada detalhe um no outro: minha vida estava ali! Estava desenhado o caminho, revelado o mistério. As lembranças que vinham ardiam, queimavam e chegavam cada vez mais perto. A porta estava ali: era uma porta, apenas uma. Eu senti uma agonia, um desespero, um tumulto. Eu precisava atravessar, mas a porta não se abria. Ela queria me dizer algo: se tudo havia se encaixado, se tudo fazia sentido, então é porque a vida estava por um fio. E então eu apaguei, pisoteada pelas lembranças, sufocada pela resposta, na frente da porta. E no último suspiro acordei!
Disse a ele que havia sonhado com uma porta.
- Uma porta? Como era?
Era uma porta como milhares de outras portas que existem por aí.