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11 de setembro de 2014

Da âncora

Minha sanidade
Já há muito corrompida
E o meu corpo fraco
Arrastado pelas ondas
Lançaram a âncora
Neste porto atraente

Aqui me deparei com gente
Bicho, lixo e automóvel
Num movimento doentio
Ditado pelo sol de meio-dia
E pelo suor que enxarca o corpo
Afogando a vontade de viver

E aos poucos a âncora
se tornou o peso insuportável
Que carrego nas costas
E me deixa corcunda
Que me tira a postura
Como tira os sonhos

Até o vento que às vezes bate
Pra aliviar o ardor
De viver nesse inferno
Passa de mim
Pelo buraco que a saudade
Cavou em meu peito
E desperta a insônia
Que se deita comigo

Acordada eu me lembro
De como era navegar
Sem passar mais que dois dias
Em terra firme

Hoje tudo é firme
E quase nada flutua
O que flutua se desmancha
No ar



23 de março de 2014

Encardida

Repetidas vezes
Pelo decorrer do hoje
Expulsei teu nome
Do cerne de meu devaneio 

Acordou-se a vila
Ao som de meus berros
-Pedindo por teu corpo-
Antes mesmo do sino tocar

Cuspi tua vida no prato
No meio do refeitório
E as velhas morreram de asco 
Por teus detalhes sórdidos 

Teu corpo, em minha língua
Virou canção. Fiz voz e violão
Na praça, no sol ardente
Em projetos e nas reuniões 

E  sob a penumbra,
Risquei em batom vermelho
O contorno dos teus lábios
No espelho de um banheiro
Imundo e inundado

No auge da embriaguez, na calçada
Vomitei- já no final do dia-
Além do álcool 
As juras de amor que não vieste ouvir 
Minha encardida poesia




15 de fevereiro de 2014

Acorda bamba

Levanta o primeiro pé 
E mantém-se dessa forma 
Num equilíbrio 
Digno de corda bamba 
Por todos os segundos 
Que antecedem 
O próximo passo

repete o ato 
Repete  
E Repete o ato 

Conhece de ponta a ponta
Esse chão de pedras 
Que se convertem em ovos 
Com a incrível leveza 
Daqueles movimentos grandiosos

Flutua baixo
Flutua 
Flutua baixo

Lembra que é bailarina 
E depressa se enrola 
Rodopia de mãos no ar 
Sorri para o público 
Apruma a postura

E salta no ar
Salta 
Salta no ar 

Mas cai pesado 
Daquela cama fria 
Com o som que acende o dia 
E, no susto, derruba a mesa 
Derruba o sonho 
Derruba a certeza 
Derruba a corda bamba
Acorda.