Não há claridade. Entre mim e a
realidade já houve muito menos dessa poeira sufocante. Hoje eu tusso, e tossiria
ainda que não tivesse voltado a fumar. Inclusive, voltei a fumar e a me
movimentar. Essa contradição que faz meu pulmão pedir arrego e que me faz ter
um troço estranho quando estou correndo, essa tontura que dá quando respiro
fundo é que me faz acreditar em estar vivo. Porque no mais existem sombras de formas
duvidosas atrás das nuvens, atrás dos pensamentos e do TIC TAC eterno que ecoa
nas paredes do meu crânio. Como se o trem fosse passar e eu não tivesse feito
as malas, uma vida de passagem comprada e de brinde um eterno atraso. Antes de
dormir as horas que tenho de sono estão contadas, durmo agora que é pra acordar
disposto. Mas não adianta, meu travesseiro é um playground onde cada minuto
brinca e ri da cara de quem já está
sonhando, mas os olhos nem piscam. Tudo que eu preciso é que um caminhão invada
a casa e passe em cima da minha cama. Essa ideia da dor de verdade, da angústia
de verdade, da inveja, do ciúme, da saudade, do desespero não saem da minha
mente. Mas tudo que sinto é o que não
sinto. Estou vazio. Raras vezes, de surpresa, vem o medo me fazer cócegas. Nesses dias a história de comer até não aguentar meu peso nem funciona, já que meus pés não
reagem. Por isso é que estou doente. Por isso a falta do ar que não faltou, a
taquicardia paralítica, a náusea sem vômito. Porque meu corpo precisa compensar
tamanha inutilidade desse epitáfio iminente. Por isso me caem os cabelos, o
sorriso e os desejos. Só não cai a ficha de que estou pouco velho pra muito
louco.
Esse aqui é muito bom Letícia, principalmente a parte: por isso me caem os cabelos, o sorriso e os desejos! Gosto de passagens melancólicas.
ResponderExcluirEsse é bem meu, assim. Escrevi espontaneamente num desespero de dizer o que tava sentindo. Sim, meus cabelos estavam caindo huwehauhus
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